Você sabia que a taxa de feminicídios no Brasil é uma das maiores do mundo, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (2019)? Sabia que o Estado de Goiás ocupou o terceiro lugar no Ranking Nacional de Feminicídios em 2019, segundo o levantamento do 13° Anuário Brasileiro de Segurança Pública? Sabia que quem mais mata são companheiros ou ex-companheiros que não aceitam o término do relacionamento? Ou seja, ser mulher e estar viva no Brasil é uma batalha cotidiana de sobrevivência. O feminicídio é a forma mais extrema de violência na vida de um casal, dentre todas que o antecedem.
A Psicologia pode atuar nesta área de várias formas, seja no nível individual, conjugal, familiar e social, em todas visando à não violência, a preservação da vida e a proteção das vítimas, de acordo com os parâmetros do Código de Ética Profissional da(o) Psicóloga(o). No nível individual, a(o) psicóloga(o) observará as histórias de vida dos envolvidos, os sentimentos e as emoções, como medo, culpa, vergonha, coragem, raiva, etc. Na atuação com casais, examina-se o tipo de relação estabelecida e seu vínculo, que geralmente é de amor e dor, amor e ódio, já que o diálogo e a comunicação estão aniquilados.
Com famílias, avalia-se suas trajetórias, histórias e sagas familiares dos envolvidos em relações violentas, tanto dos autores, como também das vítimas. A literatura indica que, em muitas famílias, a violência vai perpassando várias gerações.
A Psicologia precisa entender que o feminicídio é sociohistórico em nosso país. A historiadora Mary Del Priore (2011) nos mostra que ao longo da história brasileira, muita violência aconteceu entre casais, porque isto era considerado normal e a mulher era entendida como propriedade do homem. Valeska Zanello, psicóloga brasileira, reflete que as relações entre homens e mulheres têm como base o machismo, o dispositivo materno, o dispositivo de gênero, a prateleira do amor e a objetificação dos corpos femininos. Esses fatores são estruturais e estruturantes das nossas subjetividades e da nossa forma de entender e interpretar o mundo.
É importante que as vítimas de violência doméstica formalizem denúncia em delegacias de polícia para a proteção de suas vidas e também das vidas de seus companheiros. O assunto é tão complexo que eu finalizo com as reflexões de Machado e Magalhães (1998, p. 2), que dizem: “(...) não basta entender as relações conjugais entre homens e mulheres apenas como relações de poder ou de não poder, de desigualdade ou de igualdade, e de violência ou de não violência; essas relações também se organizam como relações de afetividade, sexualidade, amor e paixão”.
Dra. Karen Michel Esber