Estava eu em uma reunião de trabalho on line, somente com mulheres, quando uma relatou que uma conhecida tem sido sexualmente assediada pelo chefe.
Ele a olha daquele jeito lascivo que nós, mulheres brasileiras, conhecemos muito bem. Já fez comentários maliciosos sobre seu corpo e forçou constrangedores encontros sozinhos. Por essas e outras, ela começou a ficar com medo dele a estuprar.
A mulher que relatava o fato mencionou as roupas extravagantes da moça assediada. Uma das presentes sugeriu que ela deveria se vestir de forma mais discreta. Para a minha decepção e desespero, várias outras concordaram!
É óbvio que elas disseram isso perto da pessoa errada, porque eu nunca passei pela fase de aceitar esses absurdos calada.
Com muita honra e orgulho, faço parte do grupo de mulheres e profissionais que lutam pelo fim da cultura do estupro. Não queremos uma sociedade que culpabiliza as vítimas e que tenta corrigi-las. Queremos uma sociedade que ensine aos homens, pelo jeito fácil ou difícil, os limites do sim e do não.
Nós mulheres temos a árdua tarefa de combater o histórico machismo, o patriarcado, a falsa ideia de posse que os homens têm sobre nossos corpos e a culpabilização das vítimas. Isso exige esforço cotidiano e resistência consciente em relação às palavras mal ditas. Demanda total repúdio à violação real ou simbólica do direito de não sermos estupradas, sob absolutamente nenhuma justificativa.
Se nós mulheres não nos rebelarmos contra essa cultura maléfica e perversa que nos coloca todos os dias em risco, quem vai? O estuprador?
No grupo, minha argumentação indignada, mas totalmente educada começou com: \\\"Não sei se estamos de acordo sobre a gravidade do caso e sobre quem tem culpa de que ....\\\"
Em pleno 2022? Isso cansa ...
Dra. Karen Michel Esber