A Associação dos Magistrados Brasileiros lançou em junho de 2022 a segunda fase da campanha “Sinal Vermelho Contra a Violência Doméstica”. Agora, ela terá foco em mensagens voltadas para os homens.

Em meu trabalho com a violência sexual, tenho defendido há mais de vinte anos que, além de atendermos as vítimas, precisamos também atuar com os autores, com o objetivo de prevenir novas incidências e interromper o ciclo da violência. Para o caso da violência doméstica contra a mulher, esta lógica não é diferente, pois segue o mesmo raciocínio sobre como devemos enfrentar qualquer tipo de violência. Para exemplificar, retomo a fala de Theodor Adorno que, ao olhar para o absurdo a barbárie de Auschwitz, citou o seguinte:

“(...) é preciso buscar as raízes nos perseguidores e não nas vítimas [...] é preciso reconhecer os mecanismos que tornam as pessoas capazes de cometer tais atos, é preciso revelar tais mecanismos a eles próprios, procurando impedir que se tornem novamente capazes de cometer tais atos, na medida em que se desperta uma consciência geral acerca desses mecanismos.” (Adorno, 1995, p. 121)

Voltando ao caso dos homens que praticam violência doméstica contra a mulher, a própria Lei Maria da Penha prevê a criação de grupos reflexivos, que visam a reeducação e responsabilização, pois se entende que somente a punição não é suficiente para transformar a realidade dos casais.

Torço para que a nova fase da Campanha Sinal Vermelho ajude os homens a identificarem o que o amor NÃO é: possessividade, domínio, tirania, manipulação calculada, humilhação, medo, dependência e dor. Ou seja, amor não fere, não violenta e nem despreza.

Dra. Karen Michel Esber