Às vezes, o corpo vai embora primeiro, mas o coração demora a ir, porque queria ficar.
Às vezes, a batalha é contra o cérebro e o coração, que pedem para permanecermos no conforto do que é familiar.
Às vezes, a familiaridade faz deixar apenas no sonho aquilo que poderia ter acontecido, mas a realidade nos relembra que nunca aconteceu.
Às vezes, a realidade se transforma em dor e na certeza de que ficar não é mais possível.
Às vezes, ficar em lugares que doem se torna nocivo e faz sangrar, mesmo que já tenha sido bom no passado, porque ali não há mais espaço para o crescimento.
Às vezes, sangramos porque não fomos ouvidos, respeitados ou compreendidos em nossas mais preciosas necessidades, apesar de tanto termos nos explicado
Às vezes, ir embora é assustador, porque o novo é sempre um deslocamento radical para o total desconhecido e um pulo em um abismo escuro.
Às vezes, o abismo relembra nossa imensa coragem, que pode ter sido perdida em algum momento em que estávamos mergulhados no conforto do que é familiar.
Às vezes, a coragem nos reafirma que podemos seguir abandonando aquilo que já foi nosso um dia, mas que não é mais hoje.
Às vezes, abandonar nos faz entender que a dor de não ter poderá ser menor do que a dor de ter.
Às vezes, quem nos ama de verdade precisará se curar da dor de nossa partida, pois reconhecerá que nos transformamos em feras indomáveis, mas pacíficas, cuja única direção é a própria paz.
Às vezes, ser fera que dá ouvidos à intuição, à voz interior e aos desejos mais íntimos é o único antídoto para fazer parar de sangrar.
Às vezes, este antídoto se chama autoamor, que precisa estar acima de todos os outros amores. Às vezes, não! Sempre...
Dra. Karen Michel Esber